Caindo a ficha

Cair a ficha é uma expressão tão antiga, e a vida é feita de coisas antigas, de momentos vividos, de pessoas com quem aprendemos a viver.

Cair a ficha e finalmente acreditar que algo aconteceu.

Ontem foi enterro da "mamis poderosa" - assim Miriam a chamava -, a sensação mais estranha que já vivi.

Quando meu pai faleceu eu tinha apenas 5 anos, e por mais que eu soubesse o que estava acontecendo não tinha maturidade para saber como lidar com aqueles sentimentos, então meu cérebro desligou. Com a Raquel foi diferente. Já sou grandinho e ver alguém jovem com quem convivia morrer foi muito estranho.  No primeiro momento não deu para acreditar. Quando a morte foi confirmada eu já estava anestesiado com a notícia, foi mais fácil lidar, mas a ver naquela situação no velório foi chocante. Não consegui passar três minutos na capela.

No horrível momento em que entrei na capela via sua mãe debruçada sobre o corpo sem vida da filha e ao movimentar o braço a boca da filha se abriu um pouco.  Nesse exato momento que a ficha caiu e realmente acreditei que ela não estava mais viva.

Entre muita especulação sobre o futuro da empresa a única coisa certa era: ela vai fazer falta para todos com quem convivia e todos que há tinham como referência de alguma forma.

Eu não era um amigo, a apenas um colega de trabalho. A maior parte dos contatos entre nós eram apenas sorrisos e "bom dia" no corredor. Eu até gostava, isso demonstra não só educação, mas também passa bons sentimentos.

Agora é só saudade.

Brasília, 28 de março de 2015.

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